Andava Criolo pelas ruas de Arranca-Dentes sozinho, quieto, banguelo. O que mais queria era poder falar com alguém, poder ter dentes e mostrar a todos um sorriso angular, sonho de todo bom arranca-dentense. Ninguém naquela cidade sorria. Todos andavam sérios, mal-humorados, tristes. Menos Criolo. Apesar de ter esse sonho, ele sorria bangueladamente alegre. E não se importava com as chacotas que diziam, tal como esta, de autoria do dono do único armazém da pacata cidade, o senhor José Altieres:
- Bom dia, sô Artiere! - diz Criolo ao chegar à porta do armazém para prosear um pouco.
- Falaí Gingiva! Como ocê tá, fio meu?
- Eu tô bem, tirando os apelido que o sinhô anda inventano à meu respeito na cidade. Não só o sinhô como todos esses medonho que tão aqui na venda. Esse aí foi só mais um né? Tem tamém o Banguela, o Dente Vermeio, e o mais famoso: Ban ban. Agora vou-me imbora, isso aqui num é lugar prá mim, a única pessoa desse lugar que sorri, ôceis tudo sai com a cara fechada, parecendo muié em enterro. - E sai triste, não mais com o sorriso banguelado, e sim com uma cara mais triste do que a dos arranca-dentenses.
Criolo, depois de, indignado com a situação, afrontar seu José Altieres e todos que o chacotavam, não era mais aquela pessoa alegre. Tornara-se um legítimo arranca-dentense, como um rabujo, com uma cara encravada de rugas por conta das caretas que fazia, piores do que a dos habitantes de Arranca-Dentes. O seu desejo de sorrir, novamente o contagiou. Isto fez com que ele se mudasse. Uma atitude muito drástica. Mas foi.
Logo que se mudou para Dentes Novos, uma cidade perto de Arranca-Dentes, a sua vida mudou completamente. E a vida arranca-dentense também. Lá ninguém mais tinha motivo para chacotear ninguém, pois o Ban ban tinha ido embora, aliás, este era o assunto da semana na cidade. Todos queriam que Ban ban voltasse. Inclusive o debochador do armazém, José Altieres. Mas Criolo estava feliz em Dentes Novos. Lá não foi discriminado por ser banguelo, e todos sorriam na cidade. Então Criolo soltou a sua amargura num forte grito e abriu um sorriso enorme ponta a ponta de sua face. Dentes cresceram em sua boca, aumentando mais ainda sua alegria e seu sorriso. E assim ele descobriu a fórmula do sorriso. Era uma fórmula tão simples que ninguém em Arranca-Dentes conseguia ver. Era a Fraternidade. Depois disso voltou correndo para Arranca Dentes levando a Fraternidade e dizendo: "Sejam fraternos e abram um grande sorriso em suas faces, e os dentes crescerão!". Todos ficaram alegres com a volta de Criolo, mas não entendiam o que ele queria dizer. Então Criolo convocou uma reunião no armazém do Altieres e abriu a boca. Todos viram aqueles dentes brilhantes e também abriram a boca. Logo dentes apareceram. A cidade de Arranca-Dentes, mais tarde se anexou ao município de Dentes novos, deixando de existir. Tudo era novo, inclusive os dentes. E todos sorriram felizes para sempre!
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