sexta-feira, 4 de novembro de 2011

LISBELA E O ROMÂNTICO - UM ABRAÇO

          Voltei para casa. Ao ligar o chuveiro para tomar banho, vendo que a água quente caía sobre meu corpo cansado, deixei de me esfregar e fiquei ali, parado, deixando a água correr e contribuindo para que ela, um dia (se é que isso vai acontecer) acabe. Mas não me importava muito em pensar em nada e em ninguém naquele momento, apesar de ser um pouco esquerdista. Queria somente relaxar minha cabeça e afastar meu pensamento de Lisbela e de Dito Cujo, que de vez em sempre, atormentava minha mente com suas aparições. Depois do banho, deitar-me fui.
          No outro dia, como de costume, fui para a escola e lá dei-me com Lisbela sentada uma carteira à frente da que eu costumava sentar. Achei ótimo, pois, já que não converso muito com ela, poderia sentir a energia que emanava do seu coração, invadindo, mesmo que indiretamente, o meu. E ali fiquei sentado, olhando seus cabelos negros em meu caderno; contemplando o feixe de luz de um sol típico da manhã invadindo aquela sala lotada de alunos. Professor entra, professor sai; aulas e mais aulas. Não conseguia prestar atenção em uma só palavra do que cada um dizia, só queria concentrar-me em meu coração, ligado, pelo menos naqueles pequenos intervalos de tempo, ao de Lisbela.
          Só poderia ser obra divina, eu e Lisbela numa situação de alegria juntos. Bem, já temos sempre os mesmos pontos de vista, mas não tantos quanto percebi hoje.  Depois das aulas que matavam não só a nós dois, mas às dezenas de alunos que lá estavam, fomos juntos embora. Sempre íamos juntos pelo mesmo caminho, afinal de contas, era o caminho até o comércio de minha família esquinada com a rua da casa dela. E lá nos despedíamos na simplicidade. E naquele dia, tentei fugir do norma e tomei uma pequena atitude mais romântica: UM ABRAÇO.
            Abraços meus são raríssimos. Nem minha amada mãe sou de abraçar. Não gosto muito de apegos, beijos e outras lambanças. O que realmente me importa são as pequenas e fortes palavras que alguém pode me dizer. Lisbela não dizia, bastava seu olhar azul cruzar o meu verde-água para que, em meu coração, ecoassem e doçura de sua eloquência. E é o que me apazigua! O que me apascenta e me acalma. Sua voz fina entrando pelos meus tímpanos e explodindo com amor no coração. E por isso queria romper toda a minha timidez, ou ao menos um pouco dela, para poder me aventurar a passar meu amor através de um gesto mais concreto do que um olhar. E assim o fiz. Rápido, mas o fiz. E foi nele que liberei meu amor de um ano e meio de expectativas. Esqueci-me de tudo. De casa, escola, família, até mesmo de Dito Cujo. Aliás, não me importo muito com ele, pois nem o conheço e não faço questão de fazê-lo. O que me importa é o coração de Lisbela aberto, respirando o meu amor e deixando ele entrar, pelo menos para que ela o sinta e partilhe um pouco dele.
               E assim, cada um foi para a sua esquina. E só restou a certeza de nos vermos no outro dia no mesmo local, ou de eu tentar fitá-la ao pôr-do-sol novamente!